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segunda-feira, 24 de março de 2014

Profissionais de creches não estão preparados para formar leitores

Elton Alisson
Da Agência Fapesp

Os docentes e responsáveis pelas bibliotecas de creches e berçários públicos não estão preparados para desenvolver atividades de formação de leitores com as crianças de 0 a 3 anos. Além disso, o Programa Nacional Biblioteca da Escola possibilitou que as instituições de educação infantil públicas no país passassem a contar, nos últimos 17 anos, com um acervo de livros com quantidade e qualidade suficientes para a realização de atividades voltadas a contribuir para a formação de leitores.
As coleções de livros do programa, instituído pelo MEC (Ministério da Educação) em 1997, não contemplam, no entanto, as especificidades pedagógicas da primeira infância – de 0 a 3 anos.
As conclusões são da pesquisa "Literatura e primeira infância: dois municípios em cena e o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) na formação de crianças leitoras", realizada no Departamento de Didática da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Marília, e no Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente.
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Confira nove brincadeiras que melhoram a capacidade de leitura10 fotos

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Letras iguais - Apresente para a criança objetos que tenham letras soltas, podem ser letras de plástico ou até sopa de letrinhas. Peça que ela agrupe as letras iguais. Esse processo é importante durante a aquisição da escrita, pois permite que as crianças tomem conhecimento e compreendam as palavras que podem ser formadas. A inclusão de exercícios com letras na educação de crianças melhora o desenvolvimento na alfabetização, afirmam especialistas. As atividades foram retiradas e adaptadas do livro "Corpo, atividades criadoras e letramento", da editora Summus Editorial, escrito por Marina Teixeira Mendes de Souza Costa, Daniele Nunes Henrique Silva e Flavia Faissal de Souza Rogerio Canella/Folhapress
"Constatamos que a quantidade e a qualidade das coleções de livros do PNBE são muito boas, mas estão mais voltadas para crianças maiores, a partir de 3 anos", disse Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto, professora do curso de Pedagogia da Unesp de Marília e coordenadora do projeto, durante sua palestra no evento.
"Também há um despreparo dos professores e cuidadores e de toda a equipe das escolas para trabalhar com essas crianças pequenas não só em atividades relacionadas à formação de leitor, mas também para compreender as potencialidades das crianças", afirmou Girotto.
Durante o projeto, os pesquisadores analisaram o acervo de obras literárias do PNBE voltados à educação infantil. Uma das principais constatações foi a de que as coleções, compostas por mais de 150 obras, não contemplam as especificidades das crianças abaixo de 3 anos em termos de projeto gráfico, editorial, estético e literário.
"Não defendemos que seja preciso estabelecer regras para a literatura infantil, mas há especificidades que não podem ser desconsideradas nos livros voltados à primeira infância", afirmou.
"As crianças nessa fase de desenvolvimento não leem do mesmo modo que uma criança em fase de alfabetização, tampouco como um leitor maduro. Mas já ensaiam, pelo contato direto com o livro, o que denominamos de 'ações embrionárias do ato de ler', atribuindo sentidos às ações iniciais dos modos de ler", disse Girotto.
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Para treinar leitura, crianças contam histórias para gatos órfãos10 fotos

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Como parte do programa "The Book Buddies" (amigos dos livros, em tradução livre), crianças da Pensilvânia (EUA), em idade escolar correspondente ao ensino fundamental brasileiro, leem para gatos que estão esperando por adoção na ONG Animal Rescue League. A ação é usada para melhorar as habilidades de leitura dos alunos e fazer com que eles ganhem confiança. Os animais podem propiciar suporte e conforto para os jovens leitores, além de não julgarem possíveis erros. Segundo pesquisadores da Universidade Tufts, os estudantes mostraram foco e melhoria na escola Mark Makela/Reuters

Práticas de leitura

Os pesquisadores também fizeram um mapeamento de como as crianças com até 3 anos têm acesso a livros nas instituições públicas de educação infantil com base em entrevistas com 520 professores, 60 coordenadores pedagógicos e 55 profissionais responsáveis pela biblioteca de 71 creches e berçários dos municípios de Marília e Presidente Prudente, no oeste paulista.
Foi constatado que cerca de 80% desse universo de instituições ainda não utiliza o acervo recebido do PNBE. Em algumas instituições, as coleções ficam em estantes da biblioteca, armários ou em caixas perdidas na instituição ou dividem espaço com produtos e materiais de limpeza.
"O pressuposto de que só a quantidade e a qualidade das obras são condições suficientes para o desenvolvimento de atividades de formação de leitores na educação infantil não é verdadeiro", avaliou Girotto.
De acordo com a pesquisadora, uma das razões da subutilização dos livros da coleção do PNBE nas instituições avaliadas é o despreparo da equipe de docentes e responsáveis pelas bibliotecas para colocar em prática atividades voltadas à formação de leitor na primeira infância.
Apesar disso, professores, coordenadores pedagógicos e profissionais responsáveis pelas bibliotecas das instituições participantes do estudo destacaram, durante as entrevistas realizadas pelos pesquisadores, que consideram importante o processo de ofertar e estimular o contato das crianças com o livro. "Mas muitos acreditam que só contar histórias ou ler em voz alta para as crianças é o suficiente", disse Girotto.
Segundo a pesquisadora, o mediador de leitura pode – e deve – ler e contar histórias para as crianças. Mas também é preciso que a criança seja colocada em contato direto com o livro para tateá-lo, explorá-lo e imitar os adultos e, dessa forma, iniciar sua formação como leitor.

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