Da Agência Fapesp
Os docentes e responsáveis pelas bibliotecas de creches e berçários
públicos não estão preparados para desenvolver atividades de formação de
leitores com as crianças de 0 a 3 anos. Além disso, o Programa Nacional
Biblioteca da Escola possibilitou que as instituições de educação
infantil públicas no país passassem a contar, nos últimos 17 anos, com
um acervo de livros com quantidade e qualidade suficientes para a
realização de atividades voltadas a contribuir para a formação de
leitores.
As coleções de livros do programa, instituído pelo MEC
(Ministério da Educação) em 1997, não contemplam, no entanto, as
especificidades pedagógicas da primeira infância – de 0 a 3 anos.
As conclusões são da pesquisa "Literatura e primeira infância: dois
municípios em cena e o PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) na
formação de crianças leitoras", realizada no Departamento de Didática da
Faculdade de Ciências e Letras da Unesp (Universidade Estadual
Paulista), campus de Marília, e no Departamento de Educação da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente.
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Letras
iguais - Apresente para a criança objetos que tenham letras soltas,
podem ser letras de plástico ou até sopa de letrinhas. Peça que ela
agrupe as letras iguais. Esse processo é importante durante a aquisição
da escrita, pois permite que as crianças tomem conhecimento e
compreendam as palavras que podem ser formadas. A inclusão de exercícios
com letras na educação de crianças melhora o desenvolvimento na
alfabetização, afirmam especialistas. As atividades foram retiradas e
adaptadas do livro "Corpo, atividades criadoras e letramento", da
editora Summus Editorial, escrito por Marina Teixeira Mendes de Souza
Costa, Daniele Nunes Henrique Silva e Flavia Faissal de Souza Rogerio Canella/Folhapress
"Constatamos que a quantidade e a qualidade das coleções de livros do
PNBE são muito boas, mas estão mais voltadas para crianças maiores, a
partir de 3 anos", disse Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto,
professora do curso de Pedagogia da Unesp de Marília e coordenadora do
projeto, durante sua palestra no evento.
"Também há um
despreparo dos professores e cuidadores e de toda a equipe das escolas
para trabalhar com essas crianças pequenas não só em atividades
relacionadas à formação de leitor, mas também para compreender as
potencialidades das crianças", afirmou Girotto.
Durante o
projeto, os pesquisadores analisaram o acervo de obras literárias do
PNBE voltados à educação infantil. Uma das principais constatações foi a
de que as coleções, compostas por mais de 150 obras, não contemplam as
especificidades das crianças abaixo de 3 anos em termos de projeto
gráfico, editorial, estético e literário.
"Não defendemos que
seja preciso estabelecer regras para a literatura infantil, mas há
especificidades que não podem ser desconsideradas nos livros voltados à
primeira infância", afirmou.
"As crianças nessa fase de
desenvolvimento não leem do mesmo modo que uma criança em fase de
alfabetização, tampouco como um leitor maduro. Mas já ensaiam, pelo
contato direto com o livro, o que denominamos de 'ações embrionárias do
ato de ler', atribuindo sentidos às ações iniciais dos modos de ler",
disse Girotto.
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Como
parte do programa "The Book Buddies" (amigos dos livros, em tradução
livre), crianças da Pensilvânia (EUA), em idade escolar correspondente
ao ensino fundamental brasileiro, leem para gatos que estão esperando
por adoção na ONG Animal Rescue League. A ação é usada para melhorar as
habilidades de leitura dos alunos e fazer com que eles ganhem confiança.
Os animais podem propiciar suporte e conforto para os jovens leitores,
além de não julgarem possíveis erros. Segundo pesquisadores da
Universidade Tufts, os estudantes mostraram foco e melhoria na escola Mark Makela/Reuters
Práticas de leitura
Os pesquisadores também fizeram um mapeamento de como as crianças com
até 3 anos têm acesso a livros nas instituições públicas de educação
infantil com base em entrevistas com 520 professores, 60 coordenadores
pedagógicos e 55 profissionais responsáveis pela biblioteca de 71
creches e berçários dos municípios de Marília e Presidente Prudente, no
oeste paulista.
Foi constatado que cerca de 80% desse universo
de instituições ainda não utiliza o acervo recebido do PNBE. Em algumas
instituições, as coleções ficam em estantes da biblioteca, armários ou
em caixas perdidas na instituição ou dividem espaço com produtos e
materiais de limpeza.
"O pressuposto de que só a quantidade e a
qualidade das obras são condições suficientes para o desenvolvimento de
atividades de formação de leitores na educação infantil não é
verdadeiro", avaliou Girotto.
De acordo com a pesquisadora, uma
das razões da subutilização dos livros da coleção do PNBE nas
instituições avaliadas é o despreparo da equipe de docentes e
responsáveis pelas bibliotecas para colocar em prática atividades
voltadas à formação de leitor na primeira infância.
Apesar
disso, professores, coordenadores pedagógicos e profissionais
responsáveis pelas bibliotecas das instituições participantes do estudo
destacaram, durante as entrevistas realizadas pelos pesquisadores, que
consideram importante o processo de ofertar e estimular o contato das
crianças com o livro. "Mas muitos acreditam que só contar histórias ou
ler em voz alta para as crianças é o suficiente", disse Girotto.
Segundo a pesquisadora, o mediador de leitura pode – e deve – ler e
contar histórias para as crianças. Mas também é preciso que a criança
seja colocada em contato direto com o livro para tateá-lo, explorá-lo e
imitar os adultos e, dessa forma, iniciar sua formação como leitor.
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