SOS EDUCAÇÃO EM CAMPOS

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sábado, 13 de abril de 2013

A Verdade Sobre a Educação Estado RJ


Por Omar Costa
 
A SEEDUC –RJ, vista por seus professores ( realidade vivida por professores da rede)
Entre 2012 e 2013, muitas foram transformações realizadas pela secretaria de educação do RJ e suas escolas. Os relatos aqui expostos sintetizam um pouco daquilo que os profissionais da educação estadual têm passado ultimamente, relatos e fatos desconhecidos pela grande maioria da sociedade.

1) No ano de 2012, muitas escolas estaduais que estavam alocadas dentro de escolas municipais ( as chamadas escolas compartilhadas) foram sumariamente fechadas, sob a alegação de que o Estado não poderia arcar com o alto preço do aluguel cobrado pelo município ( real dono do prédio). Enfim, tratava-se de uma medida de pura economia. Quanto aos alunos e funcionários destas escolas, foram também enviados para outras unidades.
Porém o processo não ocorreu de forma ordenada, com planejamento, diálogo, informação, mas sim de forma atribulada às pressas e de um dia para o outro.
Nada disso ocorreu de um ano para outro, com consenso, planejamento, diálogo, informação, mas praticamente de um dia para outro. Sendo assim, alunos e professores foram obrigados a adaptar seus dias e suas vidas a nova realidade na grande maioria das vezes nada compatível com suas vidas já estruturadas ao novo ano letivo.
Aos professores que não foram alocados, ou seja, que sobraram nos planejamentos e montagens de horários, restou apenas uma incrível peregrinação em busca de um novo local de trabalho, muitas vezes distantes de suas residências, em horários incompatíveis com os já estabelecidos ou partilhados entre várias escolas diferentes em locais diferentes e distantes umas das outras, enfim, um verdadeiro “salve-se quem puder” para manter seu emprego. Muitos destes profissionais estão hoje chegando ao fim do mês quase que pagando para trabalharem. Ou seja ,um problema arranjado pelo Estado que deve ser resolvido pelo profissional.
Tanto se fala da parceria entre Estado do RJ e município do RJ, no sentido de prepararem um novo momento da cidade para a copa e olimpíadas, mas tal parceria não foi estendida na relação entre locador e locatário de escolas, com uma conta que deve ser paga por toda comunidade escolar das chamadas escolas extintas, algo muito difícil de entender, mas que sempre nos é explicado pela ótica da economia.
Economizar na educação?! Seria esse o preço do RJ da Copa e das olimpíadas? Interessante...

2) Neste ano de 2013, muitas turmas foram extintas em diversas escolas, em nome da otimização ( leia-se mais uma vez economia), ou seja, turmas ainda mais lotadas (6º ano com 50 alunos). Muitas em condições precárias, em um verão aterrador, ventilador, ar, cadeira, mesas, espaços adequados e sem ar-condicionado. Aparelhos alugados anos a fio com a desculpa de sair mais barato do que comprar por causa da manutenção. Porém a manutenção é pífia e com o dinheiro do aluguel já daria para ter comprado o triplo de aparelhos instalados nas escolas estaduais. Mas é claro que nada disso interfere na qualidade do ensino...
... Mais uma vez, professores sobrando, em busca de uma nova escola para trabalhar, divididos entre várias escolas, vários dias, horários inconciliáveis,praticamente uma dedicação exclusiva, pelo salário bem econômico, de R$ 1001,82 ( professor docente I salário inicial).
Saíamos de férias em uma escola,mas no retorno poderíamos não mais estar lá. Sim! Temos auxílio transporte sim. Quanto? Nunca sabemos exatamente, mas costuma variar entre R$30,00 e R$ 60,00 aproximadamente, seja lá qual for o trajeto e a distância casa - trabalho, o restante, vem de nossa identidade altruísta de professor. Bem como em alguns casos, as canetas usadas nos quadro brancos, suas recargas, folhas de papel para Xerox, a própria Xerox, apagador, papel higiênico, copo descartável e até mesmo água potável.

3) Desde alguns anos a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro – SEEDUC-RJ vem implementando projetos educacionais (autonomia) que tem por objetivo eliminar a disparidade idade série de alguns alunos. Nada mais do que justo, porém este projeto foi praticamente “comprado pronto” da fundação Roberto Marinho, onde é utilizado vídeo-aulas que não são criados especificamente para o programa (muitas produções são reaproveitadas do antigo telecurso 2º grau) e que apresenta uma proposta de utilizar somente um professor em sala de aula. Sim exatamente isso, apenas um professor, seja ele de que matéria for, será “qualificado” para dar aula de todas as matérias. Professores de história dando aulas de matemática, professores de educação física dando aula de química e assim por diante.
A grande questão aqui encarada pelos professores da rede é que esta prática começou a criar um excedente de professores nas escolas, pois uma turma que antes precisava de até 9 professores, agora necessita de apenas um único professor, que ao ter uma matrícula de 16h irá complementar seus tempos nesta turma com GLP (gratificações por lotação prioritária- hora extra). Enquanto os outros são oferecidos de volta às suas regionais.

4) Em 2013 uma nova prática para disfarçar a falta de professores na rede foi criada.
Foram criadas duas novas matérias nas grades escolares. Resolução de problemas matemáticos e Produção textual. Até aqui problema nenhum, porém em vez de se criar mais tempo para estas matérias, apenas foi realocados tempos de matemática e português, que já trabalhavam com estes conteúdos dentro de seu currículo escolares.
Então para que criar as novas matérias?
Simples. Ao reduzir os tempos de matemática de 6 para 4 tempos e criar a matéria Resolução de problemas matemáticos com 2 tempos. Cria-se uma falsa impressão de que o professor poderá pegar mais uma turma para dar aula.

Vamos refletir. Com 6 tempos de matemática cada professor com matrícula 16h da rede, sendo obrigado a cumprir 12 tempos em sala de aula, pegaria 2 turmas para dar aula. Mas agora com matemática com 4 tempos. O mesmo professor pode pegar 3 turmas. E os tempos que sobraram de “Resolução de problemas matemáticos? Não são preenchidos devido à carência de professores, mas para os pais de alunos, para os alunos, sociedade e principalmente para a MÍDIA fica a sensação de que as turmas agora não estão sem aula de matemática. Em detrimento da qualidade de ensino, pois estas turmas acabam tendo o mesmo conteúdo apertado agora em 4 tempos apenas.
Genial esta matemática, aumentamos a presença de turmas com aulas de matemática e português em 50% sem precisar contratar nenhum professor sequer.
Exemplo: Com 50 professores de matemática até o ano passado se dava aula para 100 turmas, agora os mesmos 50 professores dão aula para 150 turmas.
O que importa é a qualidade da aula? Parece que não.

5) No RH das regionais, setor responsável por receber os professores que sobram, e realocá-los podemos ouvir algumas ou todas as declarações a seguir:
-“Tem 24 horas para encontrar uma ou várias escolas para trabalhar, se não vai ficar em qualquer uma.”
- “Não vai aceitar nenhuma das escolas aqui disponível, começaremos a dar falta e indicaremos que o professor não quer trabalhar”.
- “Ah não pode? Vai ter que pedir exoneração então”.
Ora, professores são pais, mães, profissionais que necessitam trabalhar para várias redes ( particular, municipal, estadual, federal) afim de garantir o mínimo de dignidade para si e suas famílias. Muitos, já estão em final de carreira com idade avançada e já galgaram longos e tortuosos caminhos, outros investem em sua qualificação ( pós, mestrado, doutorado) o que reflete diretamente na qualidade do ensino. Mais do que isso, somos homens, mulheres, com facilidades e dificuldades, trabalhadores atualmente não só desvalorizados em função de nossos salários, mas também vivendo sobre coerção (com cartilhas institucionais oficiais de deveres e punições feita pela SEEDUC), com condições indignas de trabalho, e totalmente desrespeitados como profissionais.

6) No dia 1 de abril de 2013, a SEEDUC, publicou em DO que os professores que não puderem,ou não quiserem trabalhar nas escolas disponíveis, nos horários disponíveis, deverão receber falta, até chegarem à situação de abandono de cargo. Não importa tão longe e inviável seja, cumpra-se! Não há diálogo!

7) Recebemos também neste ano uma promessa de auxílio alimentação no valor de R$ 160,00 reais, que deve ser pago por CPF,e não por matrícula, pergunto então: por que o nosso desconto mensal relativo à Rio Previdência é descontado por matrícula? Ou seja, aqueles que possuem 2 matrículas são descontados 2 vezes. Segundo a lógica insana da SEEUC deveríamos também pagar por CPF uma única vez. Visto que todos os benefícios incidem no CPF e não nas matrículas o oposto do que ocorre com descontos.
Sem contar que os professores que possuem 2 matrículas precisam se alimentarem diariamente mais vezes durante a semana do que os que possuem apenas uma matrícula. Sem contar que temos professores 40h e 30h que recebem o mesmo valor. Estes terão que fazer dieta para o dinheiro os alimentarem o mês inteiro.

8) As escolas podem ser beneficiadas por um esquema de metas e bonificações, seria uma forma de aumentar o salário, caso é claro tudo que for proposto ( leia-se imposto) seja realizado. Mas o qual a principal meta? Aumentar o índice nas provas oficiais ( Saerj, Saerjinho,etc), diminuir as reprovações. Até aí tudo bem. Como é feito? Em alguns casos: assédio moral da direção ( que também é coagida por suas regionais), aprovação automática e total submissão ás ordens da SEEDUC.
Sendo que professores que cumprem GLP em escolas premiadas, mesmo que tenha sido ele professor de uma das turmas avaliadas e que tenham conquistado ótimo desempenho. Este professor não ganha a bonificação.

Enfim, isto é apenas um panorama superficial da educação do estado do Rio, narrar os detalhes, seria impossível nestas poucas páginas...
...Pedimos à sociedade que reflita e entenda que nossa luta não é somente financeira,envolve a nossa dignidade e a dos alunos, que são meros números,assim como nós.

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