ANTÔNIO GOIS
DO RIO
DO RIO
Mesmo com falhas de gerenciamento, capacitação e infraestrutura na
implementação do programa UCA (Um Computador por Aluno), o MEC não pretende
reduzir investimentos em tecnologia.
Pelo contrário. Segundo Sérgio Gotti, diretor de formulação de conteúdos
educacionais da pasta, mesmo sem evidência de resultados desejados até o
momento, o governo continuará investindo por entender se tratar de um "caminho
sem volta".
O UCA foi lançado em 2010 de forma piloto em seis municípios, distribuindo
cerca de 150 mil laptops para professores e alunos de mais de 300 escolas
públicas.
A Folha obteve estudo encomendado pelo governo federal à UFRJ em cinco
dos seis municípios que participaram do projeto piloto. Ele mostra que a
iniciativa sofreu com problemas como falta de infraestrutura das escolas,
capacitação insuficiente de professores e manutenção inadequada.
Os aspectos positivos destacados no estudo foram o maior domínio da
informática por parte dos alunos, resultados melhores nas escolas em que os
estudantes puderam levar os computadores para casa e até alguns benefícios na
alfabetização de crianças de seis anos.
No entanto, o uso dos equipamentos como ferramenta pedagógica em sala de aula
ficou aquém do esperado. Nas entrevistas que os avaliadores fizeram com os
docentes, foram relatadas queixas sistemáticas de implementação de forma
atropelada e apressada do programa, reduzindo o entusiasmo inicial das escolas
com a inovação.
O programa nunca chegou a empolgar a equipe do ex-ministro da Educação,
Fernando Haddad, mas tinha a simpatia da Presidência da República. Foi o então
presidente Lula que, em 2005, ao ser apresentado à ideia no Fórum Econômico
Mundial em Davos (Suiça), determinou que um grupo de trabalho atuasse para
viabilizá-lo.
O uso de tecnologias em sala de aula é um tema controverso entre educadores,
pois trata-se de um alto investimento com poucas evidências empíricas de efeitos
significativos no aprendizado. Há estudos que chegam a identificar até piora no
desempenho.
Um caso emblemático é o da cidade de Kyrene, no Estado americano do Arizona,
que investiu US$ 33 milhões entre 2005 e 2010 para adaptar as salas de aulas
antigas. Até lousas foram trocadas por telas interativas. A cidade, no entanto,
não registrou ganho de aprendizagem.
Anteontem, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou que a compra
de tablets --revelada pela Folha-- terá como alvo os professores, que
devem receber até o fim do ano 600 mil aparelhos.
Gotti, do MEC, defende a decisão. Ele argumenta que, mesmo sem evidências até
o momento dos benefícios pedagógicos, o país não pode deixar de procurar formas
de inovar no ensino.
"Como disse o ministro, não é possível ficarmos alheios à tecnologia. Temos
um compromisso moral com as escolas públicas de investir em novos equipamentos,
pois sabemos que as particulares já estão fazendo isso." Fonte: Site Uol
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