Dulcides Netto
Fotos: Valmir Oliveira
Após dar uma lição de mobilização e cidadania ao governo Rosinha, forçando o avanço nas negociações da reposição salarial de 2015, os professores municipais de Campos, com apoio de outros servidores, decidiram voltar às salas de aula na próxima segunda-feira, dia 25. O estado de greve, no entanto, está mantido para que o governo possa cumprir o que prometeu.
Após mobilizar mais de 500 pessoas, que se concentraram na praça São Salvador às 15h de ontem, de onde saíram em passeata até a sede da Prefeitura, com direito a acampamento nos jardins de Rosinha, uma comissão de 10 integrantes do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe) foi recebida pelos secretários de Administração, Fábio Ribeiro, e de Educação, Frederico Tavares Rangel, e do vereador Mauro Silva. Do lado de dentro e de fora, houve muita tensão.
Primeiro, os professores não queriam entrar, convocando os secretários para discutir do lado de fora com os manifestantes. Depois, quando aceitaram formar uma comissão e entrar, o governo não quis aceitar a presença da professora Odisséia Carvalho, alegando que a diretora do Sepe é política. Dobrado mais uma vez em sua vontade, a administração Rosinha teve que conversar também com a ex-vereadora do PT.
Enquanto isso, do lado de fora, guardas municipais, supervisionados pelo comandante do órgão Wellington Levino, quiseram a todo custo tirar os professores, que estavam acampados, de dentro da Prefeitura. Neste momento, um homem identificado como Thiago Seixas criou um tumulto, fazendo com que uma grade da sede do governo municipal se soltasse e até mesmo spray de pimenta fosse lançado nos professores. O rapa, que seria infiltrado, já que não é servidor municipal, foi detido por guardas e policiais militares. Uma professora que pulou o muro para oferecer apoio às colegas que estavam dentro da Prefeitura alegou ter sido agredida. O Sepe também se comprometeu a pintar uma parede, que foi pichada durante o ato.
— A gente repudia esse tipo de atitude. Não foi nenhum professor que praticou isso. O Sepe, se necessário, vai pintar a parede da Prefeitura — declarou o diretor do Sepe, Carlos Santafé.
Na tentativa de participarem das negociações entre o Sepe a Prefeitura, vereadores de oposição ao governo, Rafael Diniz, Marcão e Fred Machado foram barrados na porta da Prefeitura. A alegação foi de que o expediente do órgão já havia terminado. Porém, vereadores da situação, Thiago Virgílio e Genásio, estavam na parte de dentro da Prefeitura.
Em nota, a Prefeitura disse que o spray de pimenta não teria sido acionado pela equipe da Guarda Civil, que usaria outro tipo de dispositivo. Mas que, mesmo assim, uma sindicância será aberta para apurar, uma vez que o equipamento é pesado antes de ser utilizado.
Falta de estrutura de escolas foi criticada
Durante o ato, considerado histórico para os manifestantes, docentes, alunos e responsáveis, vestindo preto e com nariz de palhaço destacaram a falta de infraestrutura nas escolas municipais. De acordo com eles, as unidades estão abandonadas e em algumas delas professores e alunos estariam contraindo dengue, devido à falta de limpeza e higiene, já que centenas de profissionais de educação foram demitidos pela Prefeitura. Servidores da Saúde, da Federação dos Estudantes de Campos, da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) e docentes do Instituto Federal Fluminense (IFF) ofereceram apoio aos manifestantes.
As propostas da Prefeitura, acatadas pela categoria, foram: reingresso de funcionários administrativos (porteiro, auxiliar de limpeza) em pelo menos 30 escolas; planejamento para elaborar calendário de reforma das unidades de ensino; revisão no Plano de Cargos e Salários para todos os profissionais de educação; pontos e regências mantidos durante a greve, desde que os professores façam reposição de aulas. Sobre reajuste salarial, permanece o que foi discutido na quarta-feira (20): as negociações serão reabertas no dia 10 de setembro. Já sobre o material didático oferecido às escolas ser escolhido pelo Sepe, será decido na próxima semana. Por fim, sobre a convocação de concursados, a Prefeitura disse que não tem disponibilidade. Professores pediram também que o secretário de Administração, Fábio Ribeiro, mandasse para o Sepe uma lista da arrecadação dos royalties e das contas pagas pela Prefeitura.
Em 2011, Rosinha também acampou na sede
Os professores que acamparam ontem em protesto contra a Prefeitura parecem ter “aprendido a lição” com a própria prefeita Rosinha Garotinho. No dia 28 de setembro de 2011, após ser informada oficialmente de que estava cassada, Rosinha se recusou a deixar a sede da administração municipal, onde acamparia na unidade onde passaria a noite e só deixaria a sede do governo municipal depois de conseguir uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para reassumir o mandato. A prefeita chegou a dizer que dali só sairia presa e foi acompanhada de correligionários, que permaneceram com ela até a situação ser revertida a seu favor.
— Estão cometendo mais uma injustiça comigo e com a população de Campos. Não estamos conseguindo governar a cidade. Por duas vezes me tiraram da Prefeitura por conta de uma entrevista que dei para o Garotinho, em 2008, antes de começar o processo eleitoral. Da outra vez esperei quase sete meses para retornar à Prefeitura, mas sei que, agora, não vou sair daqui — desabafou, na ocasião, colocando a culpa de sua breve saída ao então governador Sérgio Cabral (PMDB), naquela altura, seu ex-aliado político.
O processo de cassação, na ocasião, havia se dado por abuso de poder econômico em razão de uso indevido de veículo de comunicação social (rádio “O Diário”) por ela e o marido Anthony Garotinho, em 2008 — ano eleitoral.
Fonte: Folha da Manhã.
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