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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Carta ao governador!!!

E-mail enviado pela professora Luciana Soares Marques!!!

Carta da DRA. MARIA ISABEL LEPSCH AO GOVERNADOR SERGIO CABRAL
Leiam e solidarizem-se, divulgando.
Sabe, governador, somos contemporâneos, quase da mesma idade, mas vivemos
em mundos bem diferentes.
Sou classe média, bem média, médica, pediatra, deprimida e indignada com as
canalhices que estão acontecendo.
Não conheço bem a sua história pessoal e certamente o senhor não sabe nada da minha também.
Fiz um vestibular bastante disputado e com grande empenho tive a oportunidade de freqüentar a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje esquartejada pela omissão e politiquices do poder público estadual.
Fiz treinamento no Hospital Pedro Ernesto, hoje vivendo de esmolas emergenciais
em troca de leitos da dengue.
Parece-me que o senhor desconhece esta realidade. O seu terceiro grau não foi tão
suado assim, em universidade sem muito prestígio, curso na época pouco disputado,
turma de meninos Zona Sul ...
Aprendi medicina em hospital de pobre, trabalhei muito sem remuneração em troca de aprendizado.
Ao final do curso, nova seleção, agora, para residência. Mais trabalho com pouco dinheiro
e pacientes pobres, o povo.. Sempre fui doutrinada a fazer o máximo com o mínimo.
Muitas noites sem dormir, e lhe garanto que não foram em salinhas refrigeradas costurando
coligações e acordos para o povo que o senhor nem conhece o cheiro ou choro em momento de dor..
No início da década de noventa fui aprovada num concurso para ser médica da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro'. A melhor decisão da minha vida, da qual hoje mais do que nunca não me arrependo, foi abandonar este cargo .

Não se pode querer ser Dom Quixote, herói ou justiceiro. Dói assistir a morte por
falta de recursos. Dói, como mãe de quatro filhos, ver outros filhos de outras mães
não serem salvos por falta de condições de trabalho.

Fingir que trabalha, fingir que é médico, estar cara-a-cara com o paciente como
representante de um sistema de saúde ridículo, ter a possibilidade de se contaminar e
se acostumar com uma pseudo-medicina é doloroso, aviltante e uma enorme frustração.
Aprendi em muitas daquelas noites insones tudo o que sei fazer e gosto muito do que
eu faço. Sou médica porque gosto. Sou pediatra por opção e com convicção.
Não me arrependo. Prometi a mim mesma fazer o melhor de mim.
É um deboche numa cidade como o Rio de Janeiro, num estado como o nosso assistir
políticos como o senhor discursarem com a cara mais lavada que este é o momento de
deixar de lenga-lenga para salvar vidas.
Que vidas, senhor governador ? Nas UPAS? tudo de fachada para engabelar o povão!!!!
Por amor ao povo o senhor trabalharia pelo que o senhor paga ao médico?

Os médicos não criaram os mosquitos. Os hospitais não estão com problema somente agora.

Não faltam especialistas. O que falta é quem queira se sujeitar a triste realidade do médico
da SES para tentar resolver emergencialmente a omissão de anos.
A mídia planta terrorismo no coração das mães que desesperadas correm a qualquer
sintoma inespecífico para as urgências...
Não há pediatra neste momento que não esteja sobrecarregado. Mesmo na medicina privada há uma grande dificuldade em administrar uma demanda absurda de atendimentos em clínicas, consultórios ou telefones. Todos em pânico.
E aí vem o senhor com a história do lenga-lenga.
Acorde governador ! Hoje o senhor é poder executivo. Esqueça um pouco das fotos
com o presidente e com a mãe do PAC, esqueça a escolha do prefeito, esqueça a
carinha de bom moço consternado na televisão.
Faça a mudança. Execute.
"Lenga-lenga" é não mudar os hospitais e os salários.
Quem sabe o senhor poderia trabalhar como voluntário também. Chame a sua família.
Venha sentir o stress de uma mãe, não daquelas de pracinha com babá, que o senhor
bem conhece, mas daquelas que nem podem faltar ao trabalho para cuidar de um
filho doente. Venha preparado porque as pessoas estão armadas, com pouca
tolerância, em pânico.

Quem sabe entra no seu nariz o cheiro do pobre, do povo e o senhor tenta virar o jogo.
A responsabilidade é sua, governador.
Afinal, quem é, ou são, os vagabundos, Governador ?
Dra. Ma. Isabel Lepsch

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